O silêncio que veio depois
O sol de verão castigava o Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, enquanto os amigos e familiares de António se reuniam para o último adeus. A tristeza e o desespero pairavam no ar, enquanto as lágrimas corriam incontroláveis pelas faces das pessoas que mais o amavam. A mãe de António, uma mulher idosa e frágil, desmaiou nos braços do marido, enquanto a irmã mais nova, apenas uma adolescente, tremia de dor, apertada contra o peito da mãe. O cemitério, com as suas campas antigas e os jazigos ornamentados, parecia um testemunho silencioso da morte e do luto que se desenrolava diante dele.
Mas foi quando os coveiros começaram a deitar terra sobre o caixão que algo estranho aconteceu. Uma brisa gélida, que parecia vir de lugar nenhum, começou a soprar, fazendo com que as folhas das árvores tremessem e as pessoas se arrepiassem. O silêncio que se seguiu foi ainda mais opressivo do que o choro e os soluços que o haviam precedido. E então, um som começou a ouvir-se, vindo de dentro do caixão. Um raspar e um bater, como se algo estivesse a tentar sair de dentro da madeira. A multidão ficou paralisada, sem saber o que fazer, enquanto o som se tornava cada vez mais forte e insistente. Era como se ele não estivesse disposto a partir, ou como se algo o estivesse a chamar de volta…
O que fazes?
Sim, és um amigo próximo do António.